Embora existam poucas informações sobre a ação farmacológica em indivíduos que tomam ayahuasca ou sobre a eficácia de suas possíveis aplicações clínicas, há evidências de que a ayahuasca forneça benefícios somados a suas qualidades psicoterapêuticas (Stuckey et al., 2005).

Grob et al. (1996) realizaram avaliações psiquiátricas (n=30) em adultos que faziam uso da ayahuasca no contexto religioso (UDV), comparados com indivíduos que não usavam ayahuasca (grupo controle). Observou-se que esses indivíduos faziam intenso uso de álcool anteriormente e tiveram completa abstinência após a afiliação à UDV. Esses indivíduos também apresentaram diminuição ou ausência de reações crônicas de raiva, agressão, ansiedade, ressentimento e alienação.

As informações relacionadas ao uso de álcool podem ter sido prejudicadas uma vez que a UDV proíbe que seus membros usem qualquer substância psicoativa. Entretanto, os outros parâmetros avaliados como agressão e a procura pela novidade diminuíram significativamente no grupo de usuários de ayahuasca quando comparados com grupo controle e também quando comparados com resultados de outro estudo realizado com usuários de LSD – ácido lisérgico (Halpern & Pope, 1999).

Doering-Silveira et al. (2005a) avaliaram neuropsicologicamente adolescentes (n=84) que usavam ayahuasca no contexto religioso, comparando-os com adolescentes que nunca fizeram uso de ayahuasca (grupo controle). A avaliação neuropsicológica incluiu testes de velocidade de atenção, pesquisa visual, velocidade psicomotora, habilidade verbal e visual, flexibilidade mental e memória. Os resultados mostraram não haver diferença entre os dois grupos para os parâmetros avaliados.

Outro estudo realizou-se uma avaliação psiquiátrica, verificando-se escalas de depressão, ansiedade, uso de álcool e problemas de atenção em adolescentes (n=80) que usavam ayahuasca em comparação a um grupo de adolescentes que não usava (controle). A avaliação mostrou diferenças mínimas entre os grupos, havendo uma tendência a menores sintomas de ansiedade e menor déficit de atenção no grupo que usava ayahuasca (Doering-Silveira et al., 2005).

Mais um estudo, com o mesmo delineamento, também direcionado a avaliação em adolescentes, investigou experiências relacionadas ao uso de substâncias psicoativas. Os resultados obtidos mostraram que não houve diferença estatisticamente significante, porém houve uma proporção maior de relato de uso recente de álcool (65,1% para o grupo controle e 30,5% para o grupo de adolescentes que usava ayahuasca), mostrando a importância da afiliação religiosa como fator protetor em relação ao uso de álcool (Da Silveira et al., 2005).

Através do artigo de revisão de McKenna (2004), observa-se que a ayahuasca possui características que indicam que ela pode apresentar potencial terapêutico: o uso da mesma por tribos remotas a um período de tempo bastante longo e também o fato de apresentar histórico positivo de recuperação no tratamento de indivíduos usuários de álcool e outras substâncias de abuso.

Além destes, há também a possibilidade da ayahuasca atuar regularizando os índices de serotonina em condições de defasagem da modulação a longo prazo. Cogita-se também que possa ter efeitos imuno-modulatórios significantes. Há relatos inclusive de remissão de cânceres e outros problemas sérios relacionados, através do uso regular do chá (McKenna, 2004).

Todos os efeitos terapêuticos observados com o consumo de ayahuasca necessitam de estudos clínicos complementares. Muitas questões relacionadas a uma melhor compreensão dos efeitos da ayahuasca devem ser respondidas com estudos pré-clínicos in vitro e em modelos animais. O resultado desses estudos será, então, útil para o delineamento de subsequentes estudos clínicos (McKenna, 2004).