Esta seção é dedicada ao primeiro instrumento musical na doutrina de Irineu Serra, introduzido na segunda metade da década de 30, motivo de muita controvérsia e diferentes opiniões, mas uma unanimidade entre os fardados mais antigos e cientes de seu papel dentro do salão. Segundo os ensinos ele é obrigatório a todo fardado dentro de um serviço bailado; instrução esta ainda seguida por muitos dos centros mais próximos da liturgia original, onde aqueles que não o portam tem a faculdade de assistir o trabalho sentado.

De grande força dentro de um serviço espiritual, sua batida deve estar sempre em uníssono com os passos do bailado, daí muitas vezes se fazer referência ao maracá como um harmonizador dos passos do baile.

É sabido que o Mestre teve muitas dificuldades em apresentar o instrumento ao seu grupo de seguidores, no desenvolver de sua doutrina, como atesta o depoimento de Jairo Carioca, que nos conta: “Sua introdução nos trabalhos de hinários, como afirmam os mais antigos, foi uma das tarefas mais difíceis encontradas pelo Mestre Irineu. ‘Eu mesma muitas vezes não tinha paciência para ensaiar e saía da forma. Uma vez eu me irritei tanto, que joguei o maracá na mesa e disse que não bailava mais’, lembra dona Percília Matos. Desde então surgiram os ensaios na doutrina. Mestre Irineu passou a reunir o grupo nos fins de semana, e de forma paciente, ele ia ensinando de um por um a bailar, muitas vezes pegando na mão e mostrando os passos que tinham que ser dados de acordo como a Rainha pedia para ele. Ao que se sabe, foram quase seis meses de intensos ensaios, até que pudesse ser executada a forma ideal de bailado instruído pelo Mestre Irineu”.

Abaixo, as inestimáves palavras de Daniel Arcelino Serra sobre o Maracá,

conforme os ensinos passados pelo Mestre Irineu, inclusive sobre a forma dele tocar.

O maracá, que foi o primeiro instrumento que ele recebeu da Rainha, era o seguinte, tinha ensaio para as pessoas que queriam aprender. Tem gente que quer tirar o maracá dos trabalhos, isso está errado.

O maracá é batido na mão, assim era a instrução dele [do Mestre]. Só não se usa maracá nos trabalhos de concentração, nem mesmo o dirigente toca. Os Hinos Novos, por exemplo, é cantado em pé e sem instrumento. A concentração dura 3h, 2h de silêncio e 1h para os Hinos Novos. Quanto aos trabalhos sentados, muitas vezes a gente fazia trabalho sentado usando o maracá. Nesta época, o Mestre fazia o Daime Rondante, aonde íamos de casa em casa realizar os trabalhos. Cada dia na casa de um irmão.

Quanto ao repique, ele [o Mestre] usava ocasionalmente, quando o ritmo e o compasso dentro dos trabalhos permitia. O repique é permitido, desde que não atrapalhe os músicos, pois ele pode interferir demais. Tem que ser dentro do compasso do trabalho.

O Mestre* usava uma lata de leite ninho [500g], daquela grande, e o resto do grupo a de nescau [média], e com o tempo as pessoas foram imitando ele. O João Nica, do Centro Rainha da Floresta, lá no Alto Santo, até hoje usa essas latas gigantes”.

*Sobre o comentário de Eduardo Bayer, perguntando a Daniel Serra “se no tempo do Mestre o padrão do Alto Santo era aquele maracá gigante de lata de leite em pó, ou se havia tamanho normal tipo lata de nescau”. Onde ele complementa a pergunta: “parece que o maracá grande era só o do Mestre por causa do tamanho dele, não é, seu Daniel?”

Agradecimentos:

Daniel Arcelino Serra (sobrinho de Irineu Serra)

Mivan Gedeon

Eduardo Bayer

Aqui no IXMA tocamos o maracá para homenagear o mestre Raimundo Irineu Serra e para nos trazer firmeza e disciplina.

O maracá deve ser tocado convenientemente, pois é um instrumento de poder e não deve deixa-lo no chão, ou joga-lo em qualquer lugar e quem o faz demonstra desleixo e falta de respeito. O participante deve saber tocar o maracá adequadamente, dentro do ritmo exigido pelo hino. Não deve ser posicionado para baixo, e sim para cima, na altura do peito, tocando levemente na outra mão, marcando melhor o ritmo da batida.

É necessário que haja tolerância acompanhada de instrução para a adaptação dos novatos. É fundamental que os fiscais tenham tolerância para instruí-los de forma delicada e amorosa. Caso o participante não esteja em condição de toca-lo harmoniosamente, deve-se educadamente, ser retirado das mãos para que não atrapalhe os demais.